quarta-feira, 9 de março de 2011

Resenha Crítica do Livro Sala de Aula Interativa

SILVA, Marco. Sala de Aula interativa. 4 ed. São Paulo, Quartet, 2006. 220p. 16 x 23 cm.

O autor, Marco Silva, é sociólogo, mestre e doutor em educação, professor da UERJ e da UNESA, desenvolve pesquisa sobre a interatividade aplicada ao ensino presencial e à distância com desdobramentos nos campos da sociologia, da arte, do mercado e das tecnologias digitais.


A Escola ainda não está em sintonia com a modalidade comunicacional emergente. Marco Silva, retrata esta questão em seu livro “Sala de aula Interativa”. SILVA traz a contribuição de alguns autores, e nesse momento aponto para Pierre Lévy quando ele diz: “a escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no falar-ditar do mestre”. Baseado na idéia de Paulo Freire de que “educação autêntica não se faz de A para B, mas de A com B, mediados pelo mundo”, e na convicção de que o professor hoje na sala de aula presencial e a distância está diante de um novo espectador: o aluno da chamada "geração digital", aquela que migra da tela da tv para a do computador), Marco Silva, sugere neste livro, que o professor não pode abrir mão do plus comunicacional oferecido pelas novas tecnologias.

Para enfrentar o desafio de mudar essa tradição, o professor encontra no tratamento complexo da interatividade, os fundamentos da comunicação que potenciam um novo ambiente de ensino e aprendizagem. Tais fundamentos mostram que comunicar em sala de aula significa engendrar/disponibilizar a participação/exploração livre e plural dos alunos, de modo que a apropriação das informações, a utilização das tecnologias comunicacionais (novas e velhas) e a construção do conhecimento se efetuem como co-criação e não simplesmente como transmissão.

SILVA diz que conhecimento se constrói em colaboração com o outro, como proponente, inclusive. Assim o professor deve ser o formulador de problemas, provocador de situações, mobilizador de inteligências múltiplas como diz GARDNER, em seu livro Inteligências Múltiplas. Este professor deve disponibilizar conhecimentos para que os alunos possam construir seus mapas individualmente e em cooperação, na sala de aula presencial e à distância, acrescenta o autor.
Um novo cenário comunicacional ganha centralidade, ocorrendo transição da lógica da distribuição (transmissão) para o da comunicação (interatividade). Interatividade, segundo o autor “é o princípio do mundo digital e da cibercultura, isto é, do novo ambiente comunicacional baseado na internet, no site, no game, no software”. Isso quer dizer, modificação radical na forma clássica da informação baseada na ligação unilateral emissor-mensagem-receptor. O emissor não emite de forma habitual, por meio de mensagem fechada, ele oferece um leque de possibilidades à disposição do receptor. A mensagem não é mais um mundo fechado, imutável, intocável, ela é modificável. A posição do receptor não é mais de forma passiva, ele é convidado à livre criação, e a mensagem ganha sentido perante sua intervenção.

O autor também chama atenção para os meios de comunicação de massa como TV, cinema, rádio, etc.,quando os mais antenados anunciam que daqui a dez anos aproximadamente vai parecer estranho ter um aparelho em casa pelo qual não se possa enviar nada, apenas receber. Diante disso a inquietação de empresários e programadores é visível. Então estão investindo no treinamento de profissionais para desenvolver interatividade em seus programas. Por outro lado, SILVA chama atenção, que mesmo diante dessa inquietação para que se tenha interatividade, não se percebe um eco na escola e nos sistemas de ensino. Diz que é preciso despertar o interesse dos professores para uma nova comunicação com os alunos em sala de aula presencial e virtual. É preciso enfrentar o fato de que tanto a mídia de massa, quanto a sala de aula ainda estão diante do esgotamento do mesmo modelo comunicacional que separara emissor e receptor.

Já na modalidade comunicacional interativa, permitidas pelas novas tecnologias, professores e alunos devem ser aqueles que consultam, que exploram, manipulam o conhecimento a favor da construção, da interação, no sentido de construir redes interativas, e não uma rota que define o território a ser explorado. Dessa forma o computador torna-se conversacional, como diz SILVA. Portanto pode-se dizer que o computador é o marco definitivo da modificação paradigmática da comunicação.

E para não finalizar este trabalho sem o tom quase poético do autor que neste livro, com suas 232 páginas nos proporciona momentos de aprendizagens e “encantos”, ressignificando a nova sala de aula da era digital e interativa, trazendo grandes reflexões acerca do conceito de interatividade, apresentamos a inspiração e o bom senso do autor, que nesse momento faz um paralelo com a arte Parangolé e sua relação com a educação. O autor apresenta o “Parangolé” de Hélio Oiticica, um conjunto de obras que nasceu, segundo o próprio artista, de "uma necessidade vital de desintelectualização, de desinibição intelectual, da necessidade de uma livre expressão". O que o Parangolé nos propõe é o deslocamento da experiência do campo intelectual racional para o da proposição criativa vivencial. E isto só é possível com a radicalização da vivência através da manipulação, do movimento e da utilização plurisensorial da "obra". Mais uma vez damos voz a Oiticica: "O que interessa é justamente jogar de lado toda essa porcaria intelectual, ou deixá-la para os otários da crítica antiga, ultrapassada, e procurar um modo de dar ao indivíduo a possibilidade de 'experimentar', de deixar de ser espectador para ser participador."

O Parangolé deve ser referência para o professor, no sentido de romper com o modelo comunicacional baseado na transmissão, tirando o aluno da posição de contemplação, para estar no lugar da “completação”. O autor se refere a uma pedagogia da co-autoria, a serviço da interatividade, que requer a morte do professor narcisicamente investido de poder. Assim o professor propõe o conhecimento à maneira do Parangolé. Um professor com a responsabilidade de disseminar outro modo de pensamento, de inventar uma nova sala de aula, presencial e à distância, capaz de educar em nosso tempo.

Esta obra trata da interatividade, como aperfeiçoamento da comunicação entre professores e alunos. Este livro nos convida a pensar que interatividade não depende necessariamente de computadores, de internet, porém não descarta a importância dos mesmos quando se sabe fazer bom uso; mas nos revela que a sala de aula deve ser o lugar da superação da pedagogia da transmissão, permitindo que o aluno saia da condição de espectador apenas, para ser o “participador”, o que constrói conhecimentos.


Maria do Carmo Passos é Pedagoga, Psicopedagoga e aluna do curso de Especialização em Tecnologias e Novas Educações, da Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação (FACED).

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